Será que, se muitas pessoas comerem menos carne e substituírem por mais vegetais, não haverá espaço para cultivar tudo?

Por vezes, ouve-se afirmações como "Se deixarmos todos de comer carne, não vai haver espaço para cultivar todos os vegetais necessários para a substituir", ou "Não como tofu porque é feito com soja e, se comer, vou aumentar a pressão para a desflorestação". Com base na pesquisa que tenho feito nos últimos tempos, preparei este artigo para desmistificar estas questões


Os animais têm um papel importante nos ecossistemas, e existem fatores culturais, sociais ou económicos que fazem com que a carne seja uma componente importante da alimentação de várias pessoas. Mesmo assim, a redução do consumo de carne, quando possível, é um fator importante para a redução das emissões de gases de efeito de estufa e controlo das alterações climáticas.

Vamos então ao tema deste artigo?

Em primeiro lugar, é importante saber que os animais de gado consomem dois tipos de plantas:

  • Comestíveis por humanos: soja, milho, cevada, entre outros;

  • Pastagens: ervas e outras plantas não comestíveis por humanos.

Em calorias, podemos distribuir da seguinte forma a utilização das culturas comestíveis por humanos:

 

Berners-Lee, M. et al. (2018). Current global food production is sufficient to meet human nutritional needs in 2050 provided there is radical societal adaptation. Elementa: Science of the Antropocene

 

Estes 53,3% são, então, dados aos animais, que depois se transformam em alimento para humanos.

Um caso flagrante é o da soja. O uso da soja, entre 2017 e 2019, distribuiu-se da seguinte forma:

 

Fonte: via Our World in Numbers: Food Climate Resource Network, University of Oxford & USDA PSD Database

 

Por isso, a pressão individual sobre a produção de soja exerce-se principalmente através de uma alimentação com maior consumo de animais.

Uma alimentação que inclua tofu, edamame, ou outras fontes de soja, não será, assim, aquela que faz a maior pressão sobre a produção de soja.

Outro problema é o facto de os animais não serem muito eficientes a converter o que comem em alimento para humanos:

% da proteína ingerida que é convertida em proteína na carne:

 

Fonte: via Our World in Numbers: Alexander et al. (2016). Human appropriation of land for food: the role of diet. Global Environmental Change

 

Isto quer dizer, então, que apenas uma percentagem da proteína ingerida pelos animais é convertida em proteína que os humanos ingerem, quando os consomem.

Tendo, assim, em conta:

  • A eficiência que se perde ao converter os alimentos dados aos animais, em alimento para humanos;

  • O peso da produção de alimento para gado e aquacultura…

... não parece haver risco de não haver espaço para cultivar o que é necessário, caso mais pessoas optem por uma alimentação mais à base de plantas.


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Rita TapadinhasComentário