Como pode uma T-shirt custar 3€?

As peças de roupa extremamente baratas podem parecer “inofensivas” mas, quando não é o consumidor a pagar o preço, alguém (ou algo) estará a pagá-lo


A produção de uma peça de roupa inclui vários custos

Os custos básicos:

  • Matéria-prima: tecido, rendas, botões, linhas de costura, etiquetas, etc.;

  • Mão-de-obra: pagamentos às pessoas que trabalham de forma formal (com contratos) ou informal.

E outros custos (dependendo das marcas e das suas práticas):

  • Pagamento de horas extra e de subsídios de maternidade e doença;

  • Manutenção de condições de segurança para os trabalhadores;

  • Tratamento de resíduos e aplicação de boas práticas ambientais;

  • Utilização de matérias-primas seguras e de qualidade.

Relativamente ao preço, podemos dividi-lo entre o custo da peça e a margem de lucro bruta

Vamos assumir a seguinte média para a fast fashion, com base em 3 grupos de marcas:

 

Considerando valores nos relatórios e contas da H&M (2021), Inditext (dona da Zara e de outras marcas) (2020) e C&A (2019)

 

Agora, transpondo para uma T-shirt de 3€:

 
 

Na realidade poderá ser diferente, dependerá da T-shirt, mas desta forma temos uma ideia.

Em muitos casos, não são as marcas de fast fashion que produzem as peças que vendem

Várias marcas de fast fashion compram as peças já feitas a fabricantes localizados em países do sul global (como o Bangladesh, a Índia e a China), de forma a obterem custos mais baixos. São estes fornecedores que, em muitos casos, produzem as peças e as vendem às marcas.

O valor pago aos fabricantes (no exemplo acima, os 1,43€) tem de cobrir os custos e gerar algum lucro. As fábricas são frequentemente sujeitas a pressão para baixar preços, reduzindo custos onde é possível: trabalhadores, segurança nas fábricas, cuidados com o impacto ambiental e qualidade dos produtos.

Ao reduzir-se os custos ao mínimo, as consequências são pagas pelas pessoas...

 
 

... e pelo ambiente

 
 

Quando pagamos muito pouco por uma peça de roupa, provavelmente alguém (ou algo) estará a pagar o resto. Esse restante valor será pago pelas pessoas que produzem as peças - que terão condições de vida muito precárias, a todos os níveis - , e pelos ecossistemas e o ambiente - que irão continuar a ser degradados, para prejuízo de todos nós…

Por vezes, a roupa barata é a única opção possível e não nos devemos sentir culpados se compramos ou se temos ou tivemos este sentimento de “orgulho” ou felicidade por encontrar peças novas baratas - todo o sistema à nossa volta faz-nos sentir assim.

Felizmente, hoje em dia já começam a existir muitas formas de encontrar peças igualmente baratas, mas de uma forma mais consciente - para isso servem as plataformas de roupa em segunda mão, os mercados de trocas… Por outro lado, quem tiver orçamento, vão também surgindo mais marcas mais responsáveis (que são mais caras porque têm de cobrir os custos que implicam essa responsabilidade). Independentemente da escolha, o consumo regrado e consciente deve ser sempre a prioridade.

Este artigo não tem como objetivo fazer ninguém sentir-se culpado, mas sim falar do problema de uma das indústrias mais poluentes. Aliás, mesmo continuando a consumir, só o facto de se reduzir o consumo já pode fazer uma boa diferença.

E, por fim, atenção: uma T-shirt custar mais do que 3€ não significa que os trabalhadores e o meio ambiente estão a ser respeitados. Pode significar simplesmente maiores margens de lucro. Marcas responsáveis têm uma comunicação clara e verificável sobre as suas práticas.


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Rita TapadinhasComentário