Plástico nos Oceanos: uma praga sem precedentes

A problemática do plástico nos Oceanos está a ser cada vez mais discutida e conhecida pelo público, e ainda bem: este material (que nunca chega a desaparecer completamente) está a acumular-se rapidamente nos meios marinhos, colocando sérios riscos para animais e humanos.


Os Oceanos são essenciais para garantir a habitabilidade do planeta

Antes de entendermos melhor a forma como o plástico está a ameaçar os oceanos, é importante percebermos a sua importância. Na verdade, embora não pensemos neles todos os dias, estes são vitais para todos nós e para a habitabilidade do planeta:

  • Aproximadamente 1/3 das emissões mundiais de CO2 são absorvidas pelo oceano. Por enquanto, a capacidade de absorção tem-se mantido, embora se preveja que vá eventualmente diminuir. Adicionalmente, o excesso de CO2 leva à acidificação das águas, o que pode pôr em risco a vida marinha [1]

  • O Fitoplâncton, organismos microscópicos aquáticos, é responsável por produzir pelo menos 50% do oxigénio na Terra [2]

  • O Oceano tem um papel fundamental a absorver e libertar calor, ajudando a regular o clima do planeta [3]

  • Peixe, marisco e algas garantem a alimentação e trabalho a milhões de pessoas por todo o mundo

  • O Oceano é casa de uma enorme biodiversidade, sendo que os cientistas acreditam que 91% das suas espécies estão ainda por classificar [4]

 

O plástico é agora uma “praga” sem precedentes para os Oceanos

Atualmente, estima-se que existam mais de 150 milhões de toneladas de plástico espalhado pelos Oceanos, sendo que este número cresce, todos os dias, em pelo menos 22 mil toneladas (8 milhões de toneladas por ano)! Se se continuar na mesma trajetória, em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos meios marinhos [5].

Um dos maiores problemas do plástico é que nunca se degrada completamente. Objetos feitos com este material demoram centenas de anos a decompor-se, transformando-se nos chamados microplásticos: partículas minúsculas (menos de 5 mm de diâmetro) que podem facilmente ser ingeridas por animais marinhos.

O plástico pode assim ser encontrado em vários formatos no Oceano, como por exemplo: objetos do quotidiano (garrafas, cotonetes, sacos, pacotes, cigarros, palhinhas, etc.), artefactos de pesca, e microplásticos.

Pode parecer que o plástico que utilizamos no dia-a-dia nunca irá parar ao Oceano – afinal, não o estamos a colocar lá, certo? No entanto, a verdade é que pode (80% do plástico nos Oceanos tem origem terrestre [6]) - ora vejamos:

  • Objetos pequenos, como cotonetes, pensos e tampões, se atirados para a sanita, podem passar através dos filtros das estações de tratamento de águas residuais (ETARs), acabando nos cursos de água

  • Peças de roupa feitas com tecidos sintéticos (como poliéster e nylon) libertam microfibras plásticas durante a lavagem nas nossas máquinas. Estas fibras são demasiado pequenas para serem filtradas pelas ETARs

  • Lixo deixado no chão pode voar ou ser arrastado pela chuva e chegar facilmente até um curso de água (quem nunca viu um saco de plástico a esvoaçar no meio da rua?)

  • Plásticos leves depositados em caixotes abertos podem também encontrar caminho até um rio/mar/oceano

  • Lixo descartado na praia é facilmente arrastado pelo vento até à água

  • Vários produtos de higiene e cosmética (como esfoliantes) têm microplásticos que são encaminhados para os cursos de água após a utilização

  • Adicionalmente, plástico proveniente de barcos e pesca também acaba facilmente nos Oceanos

 

O plástico coloca riscos graves à vida marinha e humana

Depois de entrar no meio marinho, o plástico começa inevitavelmente a contactar com os seres vivos que lá habitam, interferindo com a sua existência natural. Desta forma, coloca vários riscos à sua sobrevivência, acabando eventualmente por afetar a saúde humana:

  • Zooplâncton e espécies pequenas de peixe, que estão na base da cadeia alimentar aquática, podem ingerir microplásticos [7]. Quando estas espécies são ingeridas por outros animais, o plástico sobe na cadeia alimentar, até eventualmente chegar aos pratos dos humanos. Os microplásticos têm a capacidade de absorver substâncias nocivas como pesticidas, tintas, e retardadores de chama [8]

  • O plástico não é apenas ingerido na forma de micropartículas:

    • Os sacos de plástico são facilmente confundidos com alforrecas e seres semelhantes, acabando por ser ingeridos por animais como tartarugas

    • As baleias de barbas alimentam-se abrindo as suas bocas e deixando a água e os alimentos entrarem: se encontrarem pequenos pedaços de plástico, estes também são ingeridos

    • Outras espécies de baleias e golfinhos, por exemplo, podem confundir pequenos objetos de plástico com peixe

    • Várias espécies de pássaros recolhem plástico, alimentando-se dele e dando-o também às suas crias [9]

  • Para além de ter potencial de afetar os órgãos internos dos animais (por exemplo por perfuramento), quando demasiado plástico é ingerido, o estômago fica sem espaço para receber alimento, causando uma morte dolorosa por fome

  • Vários objetos, como palhinhas, redes de pesca, argolas e sacos, podem acabar presos nos animais, causando-lhes deformações, feridas ou mesmo morte (em Portugal, estima-se que morre um golfinho por dia, capturado acidentalmente em artes de pesca) [10]

 

O que podemos fazer para diminuir o nosso impacto?

É certo que acabar com o plástico nos Oceanos exige trabalho em duas vertentes: (1) evitar que este continue a ser lá colocado; e (2) encontrar formas de retirar o que já lá existe. Este trabalho não pode, obviamente, ser apenas feito por nós enquanto pessoas individuais, mas, mesmo assim, o nosso impacto pode ser significativo, principalmente se formos muitos a mudar os nossos hábitos!

Aqui estão algumas ações que podemos aplicar imediatamente e de forma simples:

  • Evitar plástico descartável, trocando-o por alternativas reutilizáveis (garrafas, cotonetes, sacos, copos, saquetas de chá, etc.)

  • Comprar mercearias e outros produtos a granel ou em embalagens grandes

  • Evitar produtos que contenham microplásticos, como glitter e alguns cosméticos, nomeadamente esfoliantes (produtos com microesferas e polietileno na lista de ingredientes podem conter microplásticos, por exemplo)

  • Reduzir o número de lavagens das peças de roupa de fibras sintéticas e, adicionalmente, utilizar um mecanismo de recolha das microfibras, como o Guppyfriend ou Cora Ball

  • Não deitar qualquer tipo de lixo no chão ou praias

  • Reciclar o plástico que não é possível evitar nem reutilizar

  • Participar em limpezas de praias

 

Está nas mãos de todos nós contribuir para a redução da quantidade de plástico nos Oceanos, e cada ato faz mesmo a diferença!


Ouvir no podcast “Plantando Escolhas”:


Fontes:

1 “Oceans absorb almost 1/3 of global CO2 emissions, but at what cost?”, World Economic Forum (2019) (https://www.weforum.org/agenda/2019/03/oceans-do-us-a-huge-service-by-absorbing-nearly-a-third-of-global-co2-emissions-but-at-what-cost)

2 “Here are 5 reasons why the ocean is so important”, World Economic Forum (2019) (https://www.weforum.org/agenda/2019/08/here-are-5-reasons-why-the-ocean-is-so-important/)

3 “Climate Change: Ocean Heat Content”, LuAnn Dahlman and Rebecca Lindsey, National Oceanic and Atmospheric Administration (2020) (https://www.climate.gov/news-features/understanding-climate/climate-change-ocean-heat-content)

4 “How Many Species Live in the Ocean?”, National Oceanic and Atmospheric Administration (https://oceanservice.noaa.gov/facts/ocean-species.html)

5 “The New Plastics Economy, Rethinking the future of plastics”, World Economic Forum (2016) (http://www3.weforum.org/docs/WEF_The_New_Plastics_Economy.pdf)

6 “How does plastic end up in the ocean?”, World Wide Fund for Nature  (https://www.wwf.org.uk/updates/how-does-plastic-end-ocean)

7 “Microplastic Ingestion by Zooplankton”, Matthew Cole et al.  (https://www.researchgate.net/publication/236926420_Microplastic_Ingestion_by_Zooplankton)

8 “A Guide to Plastic in the Ocean”, National Oceanic and Atmospheric Administration (https://oceanservice.noaa.gov/hazards/marinedebris/plastics-in-the-ocean.html)

9 “How many birds die from plastic pollution?”, World Wide Fund for Nature (2018) https://www.wwf.org.au/news/blogs/how-many-birds-die-from-plastic-pollution#gs.cvq3tg

10 “Redes de pesca matam um golfinho por dia em Portugal”, Lusa (2020) (https://www.publico.pt/2020/02/29/ciencia/noticia/redes-pesca-matam-golfinho-dia-portugal-1905979)

A Plastic Ocean (2016) (https://www.netflix.com/pt/title/80164032)

Chasing Coral (2017) (https://www.netflix.com/pt/title/80168188)

 

Rita TapadinhasComentário