5 passos para adotar uma alimentação mais sustentável

As escolhas alimentares são uma componente incontornável de um estilo de vida mais sustentável e, com atenção a alguns pontos, é possível praticar uma alimentação mais equilibrada do ponto de vista ambiental


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É inegável a relevância dos sistemas alimentares quando se fala em alterações climáticas: são responsáveis por 1/3 das emissões de gases de efeito de estufa, 70% do consumo global de água doce, podem estar associados a temas como a eutrofização e a desflorestação e, claro, não nos podemos esquecer do problema do desperdício alimentar.


Do ponto de vista individual, existem algumas estratégias simples que podemos adotar e que nos permitem reduzir o impacto ambiental da nossa alimentação:


1. Diminuir o consumo de alimentos de origem animal

A Comissão EAT-Lancet juntou 37 cientistas para responder à questão “Como alimentar uma população mundial de 10 mil milhões de pessoas em 2050, de forma saudável e sustentável?” e chegaram à conclusão de que, a nível global, é necessário mais do que duplicar o consumo de vegetais e reduzir para menos de metade o consumo de carnes vermelhas e açúcares adicionados.

De facto, os alimentos de origem animal têm, em geral, maiores pegadas hídricas, pegadas carbónicas e maior uso de solo para produzir as mesmas calorias ou proteínas que alternativas vegetais.

Não é necessário tornarmo-nos todos vegan, nem sequer vegetarianos, mas substituir algumas refeições por refeições à base de plantas pode ser um bom contributo para o ambiente (por exemplo uma vez por semana ou, se já o fizer, passar a fazê-lo duas vezes por semana). Para isso, experimentar refeições vegetarianas em restaurantes, ou seguir receitas de blogs de alimentação vegetal pode ajudar bastante.

 
 

 

2. Preferir alimentos de origem local e DA ÉPOCA

Os alimentos de origem local e da época, estão melhor adaptados às condições do meio envolvente, o que significa que são necessários menos recursos para os produzir e conservar (basta pensar, por exemplo, na necessidade de estufas para produzir alimentos típicos do verão)

Para isto, pode ajudar a ferramenta online e gratuita da DECO com um calendário de fruta e legumes da época ao longo do ano.


3. Preferir alimentos COM CERTIFICAÇÕES EXTERNAS

As certificações externas procuram garantir padrões sociais ou ambientais na produção de certos alimentos. Alguns exemplos são a UTZ que faz parte da Rainforest Alliance (por exemplo para café, chocolate ou chá), o logo orgânico da União Europeia, a certificação Fairtrade ou a RSPO (para o óleo de palma).

 

4. Reduzir as embalagens descartáveis e optar por embalagens recicladas e recicláveis

As embalagens excessivas significam um consumo maior de recursos na produção e transporte, e toda a logística e impacto inerentes ao seu descarte, que muitas vezes não garantem os princípios da economia circular.

Quando possível, comprar a granel, com os nossos próprios sacos e recipientes, é uma boa opção. Para isso, o site agranel.pt pode ser uma ajuda, uma vez que lá podemos encontrar, por zona geográfica do país, lojas que vendem produtos nesta modalidade.

Outras duas estratégias simples, que podem ser aplicadas em qualquer tipo de loja, são:

  1. Escolher embalagens maiores, quando sabemos que vamos consumir todo o conteúdo. As embalagens maiores têm, tipicamente, menor quantidade de material envolvente (papel, plástico, cartão…) do que as de menor volume;

  2. Escolher embalagens com menor variedade e quantidade de material envolvente. Neste caso, refiro-me aos produtos alimentares que são embalados em plástico, e ainda colocados numa caixa de cartão; ou as bolachas que são embaladas em saquetas individuais, por exemplo.

 

5. Reduzir o desperdício alimentar

Por último, mas (de todo!) não menos importante, a redução do desperdício alimentar é um passo imprescindível para fazermos uma alimentação mais sustentável.

Atualmente, 1/3 dos alimentos são desperdiçados ao longo da cadeia de valor, sendo que 20% desse desperdício ocorre na fase do consumo - isto significa que há muito por onde agir! Entre 2010 e 2016, o desperdício alimentar foi responsável por 8 a 10% das emissões de gases de efeito de estufa a nível global.

Para além das emissões provenientes do transporte e tratamento/descarte dos resíduos alimentares, o desperdício alimentar representa o desperdício de todos os recursos utilizados para a produção dos alimentos (água, solo, mão-de-obra, combustíveis fósseis…) e de todos os compromissos feitos para essa produção (como a desflorestação e consequentes perdas de biodiversidade).

Um bom passo para começar a reduzir o desperdício alimentar é aproveitar sempre todos os restos de refeições anteriores. Independentemente dos restos serem em grande ou pequena quantidade, é sempre possível re-aquecê-los ou integrá-los noutras receitas. Esta é uma regra de ouro.

Outro passo importante é procurar aproveitar todo o potencial dos alimentos - muitas vezes, desperdiçamos partes perfeitamente comestíveis, simplesmente porque nos fomos habituando a fazê-lo. Um exemplo clássico é a rama do alho-francês, que pode ser incorporada em sopas, refogados ou esparregados, por exemplo.

Na secção de receitas anti-desperdício do site, tenho uma série de receitas, doces e salgadas, com vista a reduzir o desperdício alimentar.

Este tema do desperdício alimentar dá “pano para mangas” e, por isso, em breve farei um artigo a explorar mais em detalhe este assunto.


Fontes:

EAT-Lancet Commission. Summary Report (https://eatforum.org/eat-lancet-commission/eat-lancet-commission-summary-report/)

Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) (2015). Food Wastage Footprints & Climate Change (https://www.fao.org/3/bb144e/bb144e.pdf)

Our World in Data. Environmental Impacts of Food Production (https://ourworldindata.org/environmental-impacts-of-food)

United Nations Climate Change (2022). Fighting Food Waste Means Fighting Climate Change (https://unfccc.int/news/fighting-food-waste-means-fighting-climate-change)

United Nations Environment Programme (2021). Food systems hold key to ending world hunger (https://www.unep.org/news-and-stories/story/food-systems-hold-key-ending-world-hunger)

United Nations Environment Programme. Worldwide food waste (https://www.unep.org/thinkeatsave/get-informed/worldwide-food-waste)

United Nations Industrial Development Organization (2021). New research shows food system is responsible for a third of global anthropogenic emissions (https://www.unido.org/stories/new-research-shows-food-system-responsible-third-global-anthropogenic-emissions)

Rita TapadinhasComentário