5 coisas surpreendentemente insustentáveis

Existe cada vez mais informação sobre o tema da sustentabilidade (e ainda bem), mas, com isso, surgem algumas ideias que podem dar aso a confusão, e não ser tão sustentáveis e ecológicas como parecem. Hoje, vamos falar sobre 5 delas


Ver no Youtube:


1. Ter muitos sacos reutilizáveis

Com cada vez mais pessoas alerta para o problema dos descartáveis, começou-se, felizmente, a fazer a substituição dos sacos de utilização única por alternativas reutilizáveis. Ora, o problema é quando começamos todos a ter 20 sacos reutilizáveis e constantemente a adicionar mais à nossa coleção.

Os sacos reutilizáveis também precisam de recursos para serem produzidos e transportados até nós e, por isso, só faz sentido termos a quantidade de que realmente precisamos.

Vários estudos analisaram quantas vezes é necessário reutilizar um saco de algodão para este ter um impacto ambiental equivalente ao de um saco de plástico e, embora os números sejam diferentes de acordo com o estudo, o que sabemos é que este tem de ser reutilizado pelo menos mais de uma centena de vezes.

Ora, aqui o objetivo não é voltarmos voltarmos todos aos descartáveis! O objetivo é, como quase em tudo nesta área da sustentabilidade, fazer uma gestão correta daquilo que temos: neste caso ter uma coleção limitada de sacos reutilizáveis e utilizá-los o máximo de tempo, remendando-os se necessário.

Vejam aqui um tutorial para transformar uma T-shirt antiga num saco reutilizável.

2. Colocar objetos biodegradáveis no lixo

Um objeto biodegradável é aquele que se biodegrada em condições específicas, incluindo os níveis de humidade, temperatura e pressão. Um objeto compostável domesticamente é um objeto biodegradável que se biodegrada num compostor doméstico. Ambos os tipos de objetos, se colocados no lixo, serão apenas lixo indiferenciado, tal como todo o resto de lixo.

Neste ponto, já sabemos que gerar lixo não é das melhores ações do ponto de vista ambiental, e no caso do lixo orgânico, este até emite metano na sua decomposição em aterro, que é um gás cerca de 25 vezes mais impactante do que o CO2 no horizonte de 100 anos, em termos do seu efeito de estufa.

Um objeto biodegradável só é valorizado se for encaminhado corretamente, o que significa compostá-lo, se for compostável domesticamente, ou encaminhar corretamente, por exemplo à marca produtora, caso não seja. Um objeto biodegradável no lixo não faz nada pelo ambiente.

Vejam aqui mais sobre este assunto.

3. Wishcycling

O wishcycling acontece quando colocamos um objeto no ecoponto, com o desejo (“wish”) de que este seja reciclado, mesmo que não tenhamos a certeza de que isso seja possível.

O que acontece é que podemos dificultar o processo de triagem e, eventualmente, podemos até mesmo inviabilizar a reciclagem. Por exemplo, se colocarmos papel muito engordurado no ecoponto azul, podemos contaminar o papel em redor, fazendo com seja impossível reciclar não só o papel que tentámos reciclar indevidamente, como também aquele que estava em boas condições de reciclagem anteriormente. O mesmo acontece com copos partidos. O vidro é diferente do das embalagens e, se tudo for misturado, a reciclagem torna-se difícil ou impossível.

Podem ver mais sobre o assunto aqui e, na dúvida, podem ver a WasteApp da Quercus ou o enviar mensagem para o número de telefone da Sociedade Ponto verde a perguntar se certo objeto pode ser reciclado.

4. Substrato para plantas

Muitos substratos para plantas contêm uma componente, chamado turfa, que é um material extraído de turfeiras, e se gera pela decomposição lenta de matéria orgânica. Por acumular organismos outrora vivos, as turfeiras armazenam o carbono absorvido por esses organismos, sendo sumidouros de carbono. Na verdade, as turfeiras são os maiores sumidouros de carbono terrestres, armazenando mais carbono do que as florestas. Para além da retenção de carbono, as turfeiras são importantes para regular cursos de água, reduzir os riscos de cheias ou secas, regular a temperatura, diminuir o risco de incêndio e melhorar a qualidade do ar. Ao ser recolhida, a turfa liberta o dióxido de carbono que tinha retido, contribuindo assim para o efeito de estufa. Segundo a Organização das Nações Unidas, as turfeiras danificadas representam cerca de 5% das emissões antropogénicas de CO2. Por outro lado, evitar a sua destruição, ou fazer esforços de restauração, podem ser formas de contribuir para a redução das emissões.

O problema é que a turfa está presente em praticamente todos os substratos, pelas suas propriedades úteis à jardinagem e o seu baixo custo. Não é fácil encontrar uma alternativa de substrato acessível, mas é importante ter consciência sobre este tema, para estarmos atentos e fazermos um uso consciente do substrato que adquirimos. Depois de termos a nossa horta estabelecida, podemos fazer a incorporação de outras matérias orgânicas, como composto, de forma a limitar a necessidade de adquirir tanta quantidade de mais substrato novo. 

5. Relvados convencionais

Estão a ver aqueles relvados verdinhos, praticamente perfeitos? Não são a melhor coisa do ponto de vista ambiental. Sim, é verdade que as plantas são boas para o ambiente, mas é necessário que sejam plantadas e geridas da forma correta. Os relvados ajudam, por exemplo, na absorção de dióxido de carbono através da fotossíntese, mas os relvados perfeitos criados pelo homem são muitas vezes monoculturas. Estas monoculturas limitam muito a biodiversidade no local onde se encontram, podem degradar a qualidade dos solos, e exigem mais recursos para serem mantidas, como água ou mesmo fertilizantes, pesticidas e herbicidas. O ideal é encontrar plantas que criem um ambiente semelhante aos relvados, mas que sejam autóctones da região onde moramos, de forma a exigirem muito menos recursos para serem mantidas, e apoiarem a biodiversidade do local.


Fontes:

Agência Europeia do Ambiente, "Biodegradable and compostable plastics - challenges and opportunities" (2020)

Diretiva (UE) 2018/851 do Parlamento Europeu e do Conselho de 30 de maio de 201 que altera a Diretiva 2008/98/CE relativa aos resíduos

Environment Agency, "Life cycle assessment of supermarket carrier bags: a review of the bags available in 2006" (2011)

Organização das Nações Unidas. New peatland coalition targets cutting climate change, saving thousands of lives (2016) (https://unfccc.int/files/meetings/marrakech_nov_2016/application/pdf/unep_peatland_release_en.pdf)

United States Environmental Protection Agency. Importance of Methane. (https://www.epa.gov/gmi/importance-methane) (consultado em junho 2022)

Rita TapadinhasComentário